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Pesquisadores defendem desenvolvimento agrícola com preservação ambiental

Em meio à repercussão internacional das notícias sobre os incêndios na Amazônia, pesquisadores e cientistas defenderam nesta quinta-feira (29) em audiência pública na Comissão de Meio Ambiente (CMA) que desenvolvimento agrícola e preservação ambiental podem caminhar juntos.

Segundo Paulo Moutinho, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o plantio em áreas abertas e desperdiçadas no Brasil seria mais que suficiente para atender toda a demanda de produtos agropecuários para o mercado interno e externo.

— Nós temos quase 20 milhões de hectares subutilizados, já desmatados. Na minha perspectiva é quase imoralidade continuar o desmatamento — disse.

Paulo Moutinho e outros pesquisadores e cientistas vieram ao Senado falar sobre o Acordo de Paris, assinado pelo Brasil e mais de 190 países, que estabeleceu metas para evitar o aumento da temperatura do planeta e seus efeitos. O Brasil se comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito estufa (em especial o dióxido de carbono, o CO2) em 37%, até 2025, em relação aos níveis de 2005 — percentual que pode chegar a 43% em 2030.

Segundo Karen Cope, da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima), a Política Nacional de Mudanças do Clima (PNMC) tem sido eficaz para atingir o objetivo, mas ela defendeu mais investimentos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que ações para atingir as metas de Paris custariam cerca de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) global.

— Quais são os instrumentos que vão de fato levantar o capital necessário para implementação da política do clima que a gente tem para 2030 e 2050? Hoje o valor mobilizado é muito aquém do necessário — apontou Karen Cope.

No ano passado, durante a COP-24, em Katowice, na Polônia, o governo anunciou que o país não apenas cumpriu como antecipou sua meta nessa área, já atingindo o resultado esperado para 2020. A Comissão de Meio Ambiente (CMA) tem acompanhado o cumprimento dos compromissos assumidos pelo Brasil, que são o propósito da PNMC.

— Espero que esse processo e os resultados da avaliação dessa comissão sirvam para mostrar ao Brasil e ao mundo o pioneirismo que o Brasil teve na atuação e mudança do clima e o trabalho que não pode ser perdido — defendeu a representante da Rede Clima.

Queimadas

O número de focos de calor registrados na Amazônia é 60% mais alto do que o registrado nos três anos anteriores, de acordo com o IPAM. O aumento tem relação com o desmatamento, e não com uma seca mais forte, segundo Paulo Moutinho.

— Há uma correlação altíssima entre aonde está o foco de incêndio com aonde foi desmatado. A grilagem tem que ser punida porque senão quem vai perder é o agronegócio, quem vai perder é o fazendeiro sério, o pecuarista sério — defendeu Moutinho, que sugeriu a adoção de mais incentivos e subsídios para estados e produtores que adotam práticas sustentáveis e seguem normas ambientais.

Para Gustavo Luedemann, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) as recentes queimadas na Amazônia devem servir de alerta para que o Brasil não tenha aumento nas emissões de CO2. Segundo ele, é possível crescer de forma sustentável:

— Alguns dizem aí que estão querendo que a gente volte a andar de carroça. Não é isso não. Isso [a meta de redução de CO2] foi estudado, não foi tirado do além — sustentou.

O professor e pesquisador na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mauro Meirelles Santos alertou para os impactos das mudanças climáticas.

— Se a Amazônia for queimada, o Brasil vai sofrer as consequências. Vamos ter falta de chuva e vai acabar com a agricultura — apontou.

Senadores lamentaram o crescimento de correntes que tentam desacreditar o aquecimento global e as mudanças climáticas. A CMA vai produzir até o final do ano um relatório com recomendações para aprimorar a Política Nacional de Mudanças do Clima (PNMC).

— Nós vivemos hoje no Brasil momento muito delicado em todas as áreas, mas em particular no meio ambiente — disse o presidente da CMA, senador Fabiano Contarato (Rede-ES).

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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